Numa entrevista exclusiva ao Blogue do Lousada, Jorge Magalhães, actual presidente da Câmara Municipal de Lousada, demonstrou a posição da autarquia no contexto da crise que afecta a Associação Desportiva de Lousada.
Jorge Manuel Fernandes Malheiro de Magalhães, de 54 anos, licenciado em advocacia, lidera o município lousadense há quase 20 anos, contando com 5 mandatos como autarca. Actualmente, apesar de ocupar o cargo de presidente da Câmara, assume os cargos de Presidente do Conselho Fiscal da Santa Casa da Misericórdia de Lousada, Presidente da Assembleia Geral do Clube Automóvel de Lousada e de Vice-Presidente da Associação de Municípios do Vale do Sousa.
BL: Tendo em conta, a actual situação da Associação Desportiva de Lousada, que ajuda é que a autarquia pode oferecer ao clube neste momento?
JM: A autarquia, há uns anos nessa parte, tem sucessivamente sido parceira da ADL e mantém esse propósito, sempre que a ADL esteja disposta a manter esta parceria. Nós temos um montante financeiro que definimos de apoio às actividades da formação, que é essencial, apesar de termos construído infra-estruturas que o clube, de forma graciosa, tem utilizado. O caso dos campos de treinos, o complexo desportivo, tudo isso, há aqui um conjunto de situações em que a Câmara manterá sempre que o clube se disponha a manter a actividade. Portanto, isto de uma forma clara, nós estamos inequivocamente empenhados e disponíveis para manter esta instituição de sair.
BL: Recentemente, o presidente do clube referiu à imprensa local que a Câmara era a única entidade que poderia resolver este problema. Também um grupo de jovens, que criou o Movimento Lousada XXI citou a mesma expressão. Qual é a sua opinião em relação a estas declarações?
JM: Nós, como entidade pública local, somos objecto de regras que a lei impõe e temos que cumprir conforme a legislação aplicável. Portanto, temos que nos pautar por determinadas regras. Nós quando estamos a apoiar uma colectividade, neste caso um clube, temos que direccionar o apoio num determinado sentido, ou seja, o apoio que damos à colectividade Associação Desportiva de Lousada tem que ter normalmente duas vertentes: uma vertente desportiva, e neste caso a lei é clara sobre essa matéria, o apoio tem de ser dado ou deve ser dado claramente para a formação. Ou seja, para a viragem que o clube tem no âmbito da formação e portanto, tem que se eleger a comparticipação financeira da Câmara direccionada nesse sentido. A outra vertente, é não só para a execução de iniciativas que o clube leve a cabo no âmbito da cedência de instalações do Estádio Municipal. Ou seja, para obras, quer obras de conservação, quer de manutenção, quer até de expansão da actividade do clube em termos daqueles factos. Portanto, só nestas duas vertentes, tudo o que tem a ver com o futebol profissional, a Câmara ou qualquer autarquia está-lhe vedada qualquer apoio. A posição que o clube neste momento atravessa, resultante de um problema, de uma situação criada com a transferência de dois jogadores, que ao que sei, poderiam ter sido abordados de outra forma, mas não foram, a Câmara não pode, por via de subsidio resolver o problema.
Isto é claro, a lei é claríssima, aliás, aqui próximo em Felgueiras, a autarca está a ser julgada precisamente por situações dessas e portanto, não pode ser por aí, não há soluções nenhumas por essa via. Aquilo a que me predispus, e que já tenho dito, nós poderemos ajudar, não sei até que ponto, dialogando com as entidades que são credoras deste montante, no sentido até que ponto podem facilitar a que o clube, reduzindo o pedido por um lado e durante um determinado numero de anos, receberem um importância simbólica que o clube iria pagando mensalmente. Acho que isto seria possível. A Câmara apoiar ou directamente puder dar dinheiro para esse efeito, não pode porque também a impede nesse contexto.
BL: Caso a Associação Desportiva de Lousada não consiga solucionar este problema, nomeadamente o impedimento de competir no campeonato nacional da II divisão, que importância terá na construção do novo Estádio Municipal?
JM: Eu penso que a situação irá ter um desfecho positivo. Só a morte é que irresolúvel e julgo que os lousadenses, aqueles que gostam do clube, que se esforçarão no sentido de encontrar a solução. O clube não deixará de ter actividade, aliás, continua com uma actividade na formação, que eu acho interessante e que tem condições para vir, cada vez mais, a projectar no contexto não só do clube, como do país. Julgo que o clube tem capacidade para isso. As pessoas que estão envolvidas neste projecto da formação, acho que são pessoas interessantes e empenhadas e o clube poderá manter-se vivo na mesma. O estádio será importante por uma razão muito simples.
Eu quero aqui evidenciar o caso do Felgueiras. O clube desapareceu e o estádio continua a ser utilizado, está vivo, provavelmente ainda estará mais vivo no futuro, porque os dois clubes que entretanto se formaram, estão em ascensão nas divisões e, portanto, o estádio será seguramente uma referência no futuro. O estádio não vai ser só direccionado para o futebol. Nós temos uma componente clara, que é a componente da formação no atletismo. Essa componente que é compatível com o estádio e com o futebol, vai estar de forma clara e evidente e nós queremos também direccionar o conjunto dos nossos jovens e praticantes para a modalidade do atletismo e nessa vertente, terá toda a pertinência que ele exista.
BL: Relativamente à construção do novo estádio, terá capacidade para quantas pessoas?
JM: Cerca de 3000 pessoas. É aquela que nós prevemos de lugares sentados e fazemo-lo por uma questão de cautela. Entendemos que em relação às assistências médias do clube não são inferiores a estas de lugares sentados. Nós se alguma vez, for necessário projectar mais ou ir mais além, temos espaço para pudermos construir mais instalações de bancada. Portanto, neste momento, em função das assistências médias e a escassez de meios que temos para construir o estádio, dá para a lotação do estádio neste momento.
BL: Na última assembleia-geral da Associação Desportiva de Lousada, muitos sócios manifestaram-se apreensivos em relação ao futuro do clube. Qual é a mensagem que envia a esses sócios?
JM: Eu julgo que o clube já passou por vicissitudes destas, já passou por momentos mais difíceis e o clube foi sempre capaz de se regenerar. Acabou por aparecer sempre alguém que teve uma forma clara e viva do clube. Estou em crer, que o senhor presidente da assembleia-geral, bem como algumas pessoas que estão também a ajudar no processo, irão encontrar uma solução.
Seguramente, julgo que será possível e creio que o Lousada vai manter a sua actividade de uma forma clara na sua participação activa, enquanto clube de futebol e nas suas outras modalidades. Portanto, a grande mensagem que eu lhes deixava, é que de facto, os problemas existem, as dificuldades existem, mas o clube foi sempre capaz de superá-las. Neste momento, estou convicto que os lousadenses e os adeptos do clube vão continuar a dar essa mensagem e essa força para que o clube se mantenha. De isso não tenho duvidas.
BL: Face à renúncia do actual presidente Hugo Barbosa, qual é que acha que é o homem indicado para tomar a liderança do clube?
JM: Não me compete a mim fazê-lo. Sou sócio também e que tenham os maiores êxitos desportivos. Não obstante, já me deram indicação de um ou de outro caso, de pessoas que estariam eventualmente disponíveis para corporizar uma solução e se aparecer, serão bem-vindas, independentemente dos nomes, importa é que haja homens e também senhoras se for possível, de boa vontade, que estejam disponíveis para corporizar este projecto.